sexta-feira, julho 04, 2008

A cor do poder





Livro lançado na Inglaterra mostra
que desde a Antiguidade as loiras
fascinam os homens e estão sempre
perto dos poderosos e dos escândalos

Silvana Mautone - Veja Online

Algumas das melhores cabeças científicas do mundo conspiram para que todas as mulheres possam ser loiras autênticas. A indústria de cosmético gasta com pesquisas sobre colorantes e descolorantes de cabelo mais do que os laboratórios farmacêuticos na busca da cura de muitas doenças. Mas nem sempre foi assim. Um estudo histórico feito pela inglesa Joanna Pitman e transformado no livro On Blondes (Sobre as Loiras), que acaba de ser publicado na Inglaterra, mostra que no decorrer dos séculos as mulheres se valeram de todos os artifícios à disposição para clarear os cabelos, alguns pouco nobres, como o esterco de pombo. Joanna Pitman capturou uma tendência comum em diversos períodos históricos de como as sociedades enxergam as loiras. "As loiras sempre foram vistas como criaturas ao mesmo tempo inocentes, poderosas e produtos de uma intrigante combinação de fantasia sexual e imagem angelical", diz Pitman. Na Idade Média, na Europa, as mulheres loiras simbolizavam a tentação em pessoa. No meio do século XIV, Eva aparecia de cabelos claros na arte cristã. O mesmo ocorreu com Maria Madalena. No fim da Idade Média, foi a vez de a Virgem Maria aparecer sem véu e de cabelos claros. Nessa época, a conotação dos cachos reluzentes nada tinha a ver com sexualidade e tentação, mas, sim, com a pureza inquestionável do ouro.

Nada mais distante dos estereótipos modernos transformados em piadas da "loira burra", só menos abundantes que as de advogado. Mais de 500.000 sites na internet são dedicados a reproduzir piadas sobre loiras – contra apenas 1.300 sobre as morenas e somente 44 que fazem troça das ruivas. Uma clássica: "O que é uma loira entre duas morenas? Bloqueio mental". As loiras são assim mesmo, superlativas. Desde a deusa grega Afrodite, confirma a pesquisa da inglesa Pitman, as loiras, falsas ou legítimas, estão sempre perto do poder e é mais freqüente encontrá-las metidas em eventos históricos, especialmente os violentos e escandalosos, do que as morenas. A grande exceção a confirmar a regra é Cleópatra, a rainha egípcia que conquistou o coração do imperador Júlio César e, depois de sua morte, do poderoso tribuno Marco Antônio. Pitman lembra que mesmo heroínas históricas morenas vão se tornando loiras à medida que sua lenda se perpetua na história. Cleópatra apareceu de cabelos claros em diversos livros e pinturas. As mulheres em geral não querem esperar muito tempo. Segundo uma pesquisa citada por Pitman, apenas uma em vinte mulheres americanas é naturalmente loira. "Mas nas ruas a contagem é diferente, pois uma em cada três americanas adultas tem cabelos loiros", revela a autora, ela própria uma das "falsas".

Como não escreveu um livro para atacar a reputação das mulheres que preferem ter cabelos dourados, Pitman procura sempre vê-las sob uma luz favorável. Não é difícil. "Ser loira não é apenas ter essa cor de cabelo, é um estado de espírito", diz Donatella Versace, a italiana herdeira da marca famosa que talvez dispute com Madonna o posto de celebridade mais loira da atualidade. O impacto de On Blondes foi tanto que a National Portrait Gallery e a Getty Images Gallery, ambas em Londres, lançaram exposições sobre o poder de beldades como Marilyn Monroe, Grace Kelly, Twiggy, Diana e Madonna. "Não consigo mais viver sem ser loira", disse a falsa loira Joanna a VEJA. Marilyn, a deslumbrante loira falsa de Hollywood, foi a primeira a ganhar o título de deusa incontestável em escala mundial. Também foi a que inaugurou a classificação de loira avoada. Nos anos 50, a indústria cinematográfica americana buscava uma diva que afagasse a insatisfação dos soldados americanos que voltavam para casa depois de combater na II Guerra Mundial e encontravam um país com mulheres mais confiantes e independentes. Com o retorno dos chefes de família, muitas mulheres não aceitavam a tarefa de apenas pilotar o fogão. Os chefões de Hollywood tiveram uma idéia brilhante, que se tornou também uma mina de dinheiro: as mulheres bem-sucedidas e autoconfiantes tornaram-se raras nas telas de cinema e a figura da estonteante e loiríssima Marilyn, que além de sexy era submissa, ganhou espaço.

O loiro não foi associado apenas à sedução e à pureza, mas também ao poder. Como nota Pitman, a inglesa Margaret Thatcher, que tem os cabelos originalmente castanhos, passou a clareá-los ao assumir o cargo de primeira-ministra. A senadora americana Hillary Clinton deixou para trás os cabelos castanhos durante a disputa eleitoral que levou seu marido, Bill Clinton, pela primeira vez à Casa Branca. O tingimento causou bom impacto, foi elogiado – mas não a livrou das traições do marido com a morena Monica Lewinsky. Madonna, a musa pop do século XX, teve melhor sorte. De acordo com Joanna Pitman, ela estourou no mundo dos espetáculos quando decidiu deixar para trás a naturalidade de seus cabelos escuros. O álbum True Blue, de 1986, vendeu 20 milhões de cópias, quatro vezes mais que o disco anterior. Por mais que a camaleoa Madonna viva se reinventando, inclusive alternando radicalmente o visual de seus cabelos, Joanna Pitman lembra que ela sempre volta a ser loira. Em uma entrevista à revista Rolling Stone, a cantora abriu o jogo: "Ser loira é definitivamente um jeito de ser".

As pesquisas afirmam que as loiras e os loiros de verdade estão se tornando um grupo cada vez menor no estoque de tipos da humanidade. Os cabelos claros são resultado de genes recessivos. Com a globalização e as grandes levas migratórias, a quantidade de casamentos inter-raciais não pára de crescer. Por isso, o número de loiras de verdade tende a diminuir dramaticamente nas próximas gerações. Como se viu no livro da inglesa Pitman, a genética não vai ser obstáculo para que nas ruas o número de mulheres loiras aumente cada vez mais.

2 comentários:

Papu Morgado disse...

êee Lôra! Não adianta Ju, vc é loira mesmo que fique ruiva ou morena ou de cabelo azul. Pq lôra é um estado de espírito e não necessariamente a cor do seu cabelo: sua exuberância lôra você vai ter sempre! Brinca naquele makeover de ver como vc ficaria nos outros tons. Tô curiosa!!!

Papu Morgado disse...

Escreve coisa nova aê Ju! Meu blog tb anda devagar! Venho bater ponto aqui todo dia e preciso de coisas novas rsrsrsr Bjos