Versão de Charles Möeller e Cláudio Botelho acerta ao realçar o que deu certo no clássico de 1959
Macksen Luiz
Um clássico é um clássico, seja a que gênero pertença. Na área das comédias musicais, do selo Broadway, A noviça rebelde, da dupla Richard Rodgers e Oscar Hammerstein II, merece o epíteto de clássico, não só pela música marcante como pela história real derramada de romantismo e difusão internacional pelo cinema. Por mais que sejam conhecidas a trama e as canções, a presença das crianças e da noviça cantantes continua a ser um tiro certeiro na boa recepção das platéias. Essa inesgotável adesão do público a este musical de quase 50 anos se explica pela renovação geracional e pelo lastro que se criou.
A montagem de um espetáculo que está na memória coletiva não dá margem a qualquer invenção ou novidade. O importante é acentuar os elementos que mantêm a popularidade e as imutáveis reações de aceitação das platéias. A versão de Charles Möeller e Cláudio Botelho, que inaugura o confortável e bem equipado Oi Casa Grande, segue com rigor, profissionalismo e qualidade técnica a cartilha do bom musical. Nada parece fora de lugar, tudo milimetricamente ordenado em duas horas e meia. O coro das crianças provoca o esperado aplauso, a cena romântica do capitão Trapp e Maria sugere suspiros, a última cena eleva o espectador ao apoteótico grand finale.
A dupla de diretores sabe como conduzir a platéia por cada uma dessas trilhas de efeitos, a começar pela tradução de Cláudio Botelho, que, uma vez mais, transpõe rimas precisas e espírito musical as canções originais. A tradução é escorreita, com musicalidade que adere ao ouvido. A direção musical de Botelho e Marcelo Castro e a orquestra de 15 instrumentistas estão perfeitas.
O cenário de Rogério Falcão, que aproveita as possibilidades técnicas oferecidas pelo novo teatro, enche os olhos com o sobe-e-desce de ambientes, a entrada de adereços e as projeções, essas um tanto menos eficientes. Os figurinos de Rita Murtinho complementam esse visual de apelo aos olhos. A iluminação de Paulo César Medeiros também explora os recursos da nova casa de espetáculo, em feérico jogo de luminosidades. A parte técnica funciona com precisão, o que confirma a maturidade do teatro brasileiro para o musical importado.
O elenco é extensão da mesma sofisticação técnica. Capazes de cantar, dançar e interpretar, sem que tais habilidades sejam exceções em palcos brasileiros, os 44 atores demonstram mais do que afinada formação, mas depurada disciplina para transmitir, com leveza, as exigências de um musical da Broadway. O coro das freiras, com destaque para Mirna Rubim, ocupa a cena com harmonia poderosa e ganha a platéia com a sua autoridade vocal. As crianças, de infalível comunicabilidade com o público, equilibram as bem preparadas vozes com interpretações simpáticas. Kiara Sasso, com voz límpida e tipo físico que se ajusta à meiga Maria, cumpre as suas funções em cena sem deslizes. Herson Capri, ainda que não seja cantor, desempenha com facilidade o que se exige do capitão Trapp.
Solange Badim tem bons momentos cantando e atuando. Fernando Eiras tira o melhor partido, enfatizando o humor, do individualista Max. Dudu Sandroni e Ada Chaseliov têm participações discretas, como exigem os seus circunstanciais personagens. Os demais atores, em papéis menores, não destoam do equilibrado conjunto de um musical bem-realizado, que reforça a expectativa de encontrar o já conhecido e de se encantar com os efeitos de uma história tantas vezes contada.
[ 22/05/2008 ]Fiquei muito feliz com esta crítica de Macksen Luiz do Jornal do Brasil!
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