AGRESSIVA
Por Julia Porto
Sou uma pessoa bem humorada na maior parte do tempo. Até na hora de acordar, que muitos se queixam da tromba e muxôxo de outros, comigo não é assim. Ou acordo bem, ou acordo normal, ou alegrinha. Só me levanto de mau-humor se estiver com algum problema mais complicado pra resolver logo pela manhã ou se tiver dormido mal na noite anterior.
Mas toda vez que penso em mau-humor, temperamentos e agressividade eu não entendo muito bem porque colocam tudo no mesmo balaio de gatos. São coisas totalmente diferentes, não?
AGRESSIVA IN A BAD WAY
Em algumas situações eu sou agressiva e até muito agressiva e isso me incomoda muito. Sou muito amorosa ao mesmo tempo, de modo que (ainda bem!) nem sempre meu lado negro se ressalta tanto. Só fico triste quando as pessoas não percebem que às vezes só estou sendo espontânea e nada mais, de modo que o outro, por conta das neuras dele, é que se sente agredido. Na minha casa por exemplo às vezes me confundem. Às vezes me tomam por mau-humorada mas eu sou mesmo é o clássico tipo pavio curto. Não. Não acho bonito, não me vanglorio, e nem fico expalhando isso por aí. Mas sou. No entanto nos últimos tempos tenho conseguido melhorar. Acho que porque minha ótima análise me leva a muito boas reflexões e porque assumi pra mim mesma que tenho uma agressividade latente que precisa ser deslocada para algo produtivo: escrever no blog, cantar (que é meu trabalho), caminhar, correr, levantar pesos na musculação, spining e até estou cogitando comprar um saco de boxe (com luvas purple ou cor-de-rosa, claroooo!!!).
Não me sinto impelida a ser agressiva com ninguém, apenas me defendo quando junlgo que vale a pena. E hoje em dia penso 5 vezes antes de me defender com uma resposta mais enfática. Isso porque na grande maioria das vezes é o outro que está jogando as frustrações dele em você. Quando noto que o problema é do outro eu simplesmente saio à francesa, con gentileza, mas desvio. Se tiver a ver comigo e for alguma fala interessante ou significativa pra mim, aí eu converso e fico feliz. Ou até me defendo para também não ser neutra. Neutralidade me irrita (hahahaha!).
Ao assumir mesmo, que sou um tanto quanto irratadiça com as coisas, muito mais do que deveria, e que muitas vezes passo dos limites agredindo o outro e faço mal a mim mesma em meus estados de surtos coléricos, estou conseguindo parar e contar até 10. Às vezes até 20. Confesso.
Meu namorado foi o único que já notou mais nitidamente minha mudança na prática. Outro dia foi muito engraçado que eu me controlei muito pra não explodir por conta de uma besteira qualquer, mas consegui! E o mais hilário foi que ele percebeu e veio me dar parabéns, rindo, achando graça por eu estar sendo mais paciente e tranquila com uma situação que normalmente me deixaria cheia de implicâncias e muito irritada. Mas eu estava fazendo muito esforço, um esforço consciente. Pensei: se não for agora, no olho do furacão, não vai adiantar explodir e depois pedir desculpas a ele e o pior, ficar de mal comigo mesma.
Fiquei super feliz que ele percebeu! Foi muito difícil me controlar, mas consegui. O meu grande esforço pra ficar mais zen e o bom resultado que veio à galope, assim, com uma resposta positiva me fez começar a chorar. Eu sentia que estava me desafiando, e mesmo com um chorinho final, me venci em mais um momento para continuar melhorando.
AGRESSIVA IN A GOOD WAY
Eu costumo falar da percepção do meu namorado, porque ele é um cara que me conhece muito bem e conhece melhor ainda a alma humana. Ele é um ótimo psicanalista em início de carreira e eu prezo demais as opiniões dele acerca deste tema.
Obviamente ele não gosta dos meus surtinhos de irritação mas ele gosta do meu "ser agressiva" quando se refere à tomar inciativas, quando acha que sou passional e vibrante com todo bom sentido dessas palavras. Então, por curiosidade fui olhar no dicionário e vi que esta esta palavra "agressividade" é sinônimo também de "combatividade". Só que não são sinônimos exatos. Ser combativo é ser lutador, ter raça pra enfrentar adversidades e tal.
Mas algumas vezes o Felipe diz que sou mais "agressiva" que muitas mulheres. E nesses momentos ele sempre tem um leve riso de canto de boca e me chama de agressiva com um mixto de seriedade e leve malícia, me fazendo quase um elogio. Nesse caso ele não se refere à minha "combatividade", acho que deve ser à minha pulsão de vida.
Pulsões: a Psicanálise conclui pela existência de um conflito inerente ao ser humano, conflito este entre a “pulsão de vida” e a “pulsão de morte”. A pulsão de vida tem como seus derivados a amorosidade, a criatividade, o desejo de expansão, a generosidade, em fim, tudo aquilo capaz de mobilizar a energia humana para a criação, expansão e manutenção da vida. A “pulsão de morte” expressaria uma tendência para o retorno à imobilidade, que é o nosso ponto de partida (Tu és pó, e ao pó tornarás). Seus derivados seriam a auto e hetero destrutividade, a agressividade, o marasmo, a auto limitação de vida, e por aí vai.
Beijos nas blogueiras queridas do Rio, Sampa e Porto Alegre ou de onde mais vocês estiverem me acessando. Leiam esta ótima matéria abaixo que retirei da Revista Vida Simples, ainda sobre o motor da agressividade. É bem interessante!
Essa nossa sombra
Por Liane Alves da Revista Vida Simples
Tenho um amigo que é totalmente zen. Ninguém tira o moço do sério. Foi despedido por causa de uma sacanagem feita por um colega de trabalho (e ele não conseguiu balbuciar uma frase sequer em sua própria defesa), vez por outra recebe em sua casa amigos que aparecem para ficar uma semana e estendem o prazo para longos três meses e já vi gente pegar alguns bons CDs da sua estante com um cínico e deslavado depois eu devolvo sem que ele esboçasse um único gesto para impedir. Meu amigo não consegue expressar sua agressividade. Num mundo onde a maioria não tem a menor cerimônia em arreganhar os dentes e abrir seus caminhos com os cotovelos, ele tem horror em ver nele mesmo essa reação primitiva que solapa a vida dos outros mortais (ele não, ele não...). Até que um dia, na minha casa, depois de umas três ou quatro caipirinhas, meu amigo começou a despejar ódios e fúrias que provavelmente tinha guardado desde a infância. A minha mesa da cozinha, que já não é essa fortaleza, tremia a cada soco seu, por causa da prepotência de um, da falsidade do outro. Cada gozação recebida, cada injustiça passada estava registrada em sua memória. Tive a impressão de que, se o rapaz dos CDs passasse por ali, teria sua mão decepada, e o colega de trabalho, os dentes moídos. Os hóspedes inconvenientes seriam postos para fora a sopapos. Depois de socar e socar, terminou chorando pelo verdadeiro motivo de sua ira: a incapacidade de entrar em contato com as emoções negativas.
Bem, minha cozinha está longe de ser um set terapêutico, mas, ao encontrar o moço alguns dias depois, vi um sorriso em seus lábios que não estava ali antes. Ele se sentia um pouco envergonhado, sim, mas feliz. Um peso enorme havia saído de seu coração, me garantiu. Um alívio. Estava supercontente por ter descoberto que era capaz de expressar sua agressividade. Claro, ele reconhecia que ainda tinha de aprender a saber como aplicá-la na hora certa, a regular seu volume, e que isso custaria tempo e trabalho. Tinha encontrado cara a cara seu lado negro, sua sombra, de quem tinha tanto pavor (a ponto de negar sua existência). A partir daquele momento, me assegurou, tudo era uma questão de calibragem. Pode ser imaginação minha, mas a partir desse dia passei a ver muito mais cor e vida em seu rosto.
Quem, eu?!
É muito difícil mesmo mexer no caldeirão das bruxas. Ali tem asa de morcego, rabo de lagartixa, perninha de aranha. Sem contar que o cheiro da gororoba não é nada agradável. O problema é que o caldeirão das bruxas não está ali fora, está aqui dentro. A gente disfarça, tenta negar (O quê? Essa asinha de barata é minha?! Esse sapo costurado sou eu?!), mas a verdade é que nossa sopona está lá o tempo todo, cozinhando e fervendo. Muitas vezes com a tampa fechada.
E por que não mexemos no caldeirão logo de vez, já que está ali mesmo e não dá para dizer que ele não existe? Ora, porque nos pelamos de medo, ué. Vai que o caldeirão entorna? Vai que nos queimamos com seu conteú do? Vai que a gente precise encarar quem a gente realmente é? É por isso que só é aconselhável mexer no caldeirão com uma colher de pau beeem comprida. Por algum tempo, o panelão vai ter de ficar a uma distância razoável, como se não nos pertencesse. Assim, sob a luz da consciência e com um certo distanciamento, a gente consegue ver bem direitinho o que tem lá dentro. Até que chega um dia, depois de observar bastante, que a gente é capaz de dizer coisas como: Nossa, é mesmo, eu fiquei com tanta inveja dela que... Ou: Tava me mordendo de ciúmes quando... O conteúdo do caldeirão é assimilado, reconhecido e, quando possível, transformado. Assumimos nosso lado B. O inferno agora não é mais só o outro, nós também temos carteirinha de sócios beneméritos. A partir disso, a gente fica mais humano, mais relax. E as pedras que tínhamos reservado para atirar no próximo escorregam naturalmente da mão. A luz da consciência também deixa o caldo mais clarinho, menos malcheiroso e mais fácil de mexer. Dizia o psicanalista suíço Carl Jung que é melhor ser inteiro que ser bom. Mas, para atingir essa totalidade e alcançar essa integração, é preciso ter a disposição de dar o primeiro passo: encarar para valer o nosso lado negro da Força.
Encontro com Darth
Lembra o Darth Vader do filme Guerra nas Estrelas? Alto, imponente, capa negra esvoaçante, voz sintetizada. E o capacete. Darth Vader não seria Darth Vader sem o capacete. Com aquela máscara metálica, ninguém sabia sua identidade, quem ele era ou, pior ainda, o que ele era. Sua capacidade de espalhar terror, seu poder e seu fascínio vinham disso. E aí, no fi m do filme, quando o jovem Luke Sky walker encurrala o bicho e é retirado o capacete, a gente vê aquele vermezinho branco dentro, um homem fraco, deformado, sem voz. O mago das trevas tirava sua força do que parecia ser, alguém poderoso e invencível, não do que realmente era, uma coisinha frágil, encolhida. O homem da capa preta não passava de um tigre de papel, uma sombra que só tinha poder enquanto... sombra.
Nossas emoções negativas, como medo, ódio, raiva, ciúme, inveja, cobiça, rejeição, ansiedade, pena de si mesmo, fraqueza ou desejo de falar mal dos outros, entre outras, também são assim. Elas parecem poderosas, invencíveis, mas se a gente descobrir como elas se formaram, de onde elas vêm e como funcionam, vamos ver que não passam de uma semente minúscula que se agigantou, alimentada por nós mesmos, diz a psicóloga paulista Maria Lúcia Albuquerque, especialista em terapia familiar. Quando nos damos conta de como tudo surgiu e o que realmente se esconde atrás desse tipo de emoção, todo o castelo que construímos a partir dela desmorona. E aí, bye-bye, sombra.
O filme também nos dá outra excelente pista com relação a Darth Vader. Revela-se que ele é o pai de Luke. O jovem guerreiro lutava contra alguém que estava muito mais próximo do que ele próprio podia imaginar. Darth Vader não era uma pessoa de fora, mas de dentro, da família, do mesmo sangue. Portanto, alguém íntimo, quem sabe até bem parecido. As emoções negativas também estão associadas a nós, a nossa maneira de ver o mundo. Não dá para dizer que elas são uma coisa e nós outra. Elas nos espelham, diz Maria Lúcia.
Outra boa indicação: o ódio de Darth Vader nasceu por causa de um sentimento de rejeição, experimentado ao ser excluído pela Força. E quem, depois de um acontecimento desse porte, já não escutou aquela vozinha ressentida dizendo dentro da gente: Ah, é assim, é? Então vocês vão ver... Pois é, Vader também ouviu e foi atrás. Exagerou, é verdade. Mas dá para compreender. Ainda mais por alguém como Luke, que conhecia a rejeição bem de perto, sendo ele mesmo um enjeitado. Quando a gente compreende as razões da sombra, é possível abraçá-la, integrá-la, e ver como seus motivos geralmente são tão pequenos, tão bobos. A sombra pode ser grande, mas seus motivos são quase infantis.
O problema é que Darth Vader extrapolou. Ele poderia ter pego a raiva do ah, é assim, é? e fundado uma versão bem mais moderna e sofisticada da Força. Ou ir para um planeta bem distante e esquecer de uma vez por todas essa história de competição, de maior e melhor, e ser feliz ao lado de uma marciana bonitona. Como diria meu amigo, faltou calibragem. É o que geralmente nos falta mesmo ao lidar com nossas emoções.
O peso da balança
Uma pergunta fundamental é: quem, ou o quê, reage dentro de nós de forma tão automática? O que detona as emoções? Quem aperta o gatilho mais rápido do Oeste?
A palavra emoção tem a mesma raiz da palavra movimento: motio, ou ação. E o que tem movimento tem vida. São as emoções que nos impulsionam à ação e que nos fazem sentir o gosto da vida. E elas fazem parte dela, tanto as chamadas emoções positivas como as negativas.
A questão é que são as emoções negativas que nos fazem mal. Elas podem ser naturais, fazer parte da gente, mas isso não impede sua ação nociva. Tanto sua expressão exagerada e contínua como a não-expressão inconsciente podem nos prejudicar. Hormônios entram em ação, órgãos são atingidos, sistemas internos, desequilibrados. E muita energia é perdida. Tudo isso por quê? Uma das respostas é porque estamos à mercê de uma estrutura psicológica reativa que nos impulsiona a agir quase sempre da mesma maneira. Isto é, segundo vários sistemas de pensamento, temos um padrão emocional predeterminado que responde quase automaticamente aos estímulos.
Os antigos gregos chamavam essa tendência reativa emocional de humores. Um tipo sanguíneo, por exemplo, normalmente reagiria exteriorizando abertamente sua raiva, seu ciúme, sua fúria. Um tipo mais bilioso (de bile, secreção do fígado) tenderia a remoer mais seus sentimentos. E um melancólico poderia sentir tristeza ou depressão.
As medicinas indiana e chinesa também se baseiam na idéia de que existem determinados padrões emocionais e energéticos que condicionam as pessoas desde o nascimento. Para os indianos, eles estão baseados em diferentes combinações de três forças: pita (fogo), vata (ar) e kapa (terra). Se uma pessoa é kapa kapa, por exemplo, vai ser calma e bonachona. Se é pita vata, elétrica e impaciente e assim por diante. Para os chineses, os fatores de infl uência que regem os diferentes tipos humanos são relacionados aos cinco elementos: madeira, fogo, terra, metal e água, balanceados de acordo com a data em que nascemos. A astrologia (tanto a ocidental como a oriental) é outra tentativa de conhecer melhor esses padrões reativos emocionais, representados pelos signos.
Na psicologia, outros fatores de influência sobre as emoções foram descobertos e pesquisados. Freud trouxe o peso do inconsciente nas respostas emocionais, Jung acrescentou a importância do inconsciente coletivo e da força dos arquétipos (foi ele também que criou a classifi cação de introvertidos e extrovertidos). Outras correntes da psicologia, como a comportamental, referem-se a padrões reativos, mas motivados pelas vivências de cada um, isto é, aprendidos a partir de nossas experiências. A moderna psiconeurobiologia também confi rma a tese dos padrões: os circuitos cerebrais tendem a se repetir na mesma confi guração se não há estímulos para sinapses (conexões entre os neurônios) diferentes. Forma-se um círculo vicioso: se usamos sempre o circuito cerebral que nos torna tristes, por exemplo, liberamos no corpo substâncias (os neuropeptídeos) relacionadas à tristeza que, por sua vez, vão estimular o mesmo caminho no cérebro que nos deixam tristes.Por Julia Porto
Sou uma pessoa bem humorada na maior parte do tempo. Até na hora de acordar, que muitos se queixam da tromba e muxôxo de outros, comigo não é assim. Ou acordo bem, ou acordo normal, ou alegrinha. Só me levanto de mau-humor se estiver com algum problema mais complicado pra resolver logo pela manhã ou se tiver dormido mal na noite anterior.
Mas toda vez que penso em mau-humor, temperamentos e agressividade eu não entendo muito bem porque colocam tudo no mesmo balaio de gatos. São coisas totalmente diferentes, não?
AGRESSIVA IN A BAD WAY
Em algumas situações eu sou agressiva e até muito agressiva e isso me incomoda muito. Sou muito amorosa ao mesmo tempo, de modo que (ainda bem!) nem sempre meu lado negro se ressalta tanto. Só fico triste quando as pessoas não percebem que às vezes só estou sendo espontânea e nada mais, de modo que o outro, por conta das neuras dele, é que se sente agredido. Na minha casa por exemplo às vezes me confundem. Às vezes me tomam por mau-humorada mas eu sou mesmo é o clássico tipo pavio curto. Não. Não acho bonito, não me vanglorio, e nem fico expalhando isso por aí. Mas sou. No entanto nos últimos tempos tenho conseguido melhorar. Acho que porque minha ótima análise me leva a muito boas reflexões e porque assumi pra mim mesma que tenho uma agressividade latente que precisa ser deslocada para algo produtivo: escrever no blog, cantar (que é meu trabalho), caminhar, correr, levantar pesos na musculação, spining e até estou cogitando comprar um saco de boxe (com luvas purple ou cor-de-rosa, claroooo!!!).
Não me sinto impelida a ser agressiva com ninguém, apenas me defendo quando junlgo que vale a pena. E hoje em dia penso 5 vezes antes de me defender com uma resposta mais enfática. Isso porque na grande maioria das vezes é o outro que está jogando as frustrações dele em você. Quando noto que o problema é do outro eu simplesmente saio à francesa, con gentileza, mas desvio. Se tiver a ver comigo e for alguma fala interessante ou significativa pra mim, aí eu converso e fico feliz. Ou até me defendo para também não ser neutra. Neutralidade me irrita (hahahaha!).
Ao assumir mesmo, que sou um tanto quanto irratadiça com as coisas, muito mais do que deveria, e que muitas vezes passo dos limites agredindo o outro e faço mal a mim mesma em meus estados de surtos coléricos, estou conseguindo parar e contar até 10. Às vezes até 20. Confesso.
Meu namorado foi o único que já notou mais nitidamente minha mudança na prática. Outro dia foi muito engraçado que eu me controlei muito pra não explodir por conta de uma besteira qualquer, mas consegui! E o mais hilário foi que ele percebeu e veio me dar parabéns, rindo, achando graça por eu estar sendo mais paciente e tranquila com uma situação que normalmente me deixaria cheia de implicâncias e muito irritada. Mas eu estava fazendo muito esforço, um esforço consciente. Pensei: se não for agora, no olho do furacão, não vai adiantar explodir e depois pedir desculpas a ele e o pior, ficar de mal comigo mesma.
Fiquei super feliz que ele percebeu! Foi muito difícil me controlar, mas consegui. O meu grande esforço pra ficar mais zen e o bom resultado que veio à galope, assim, com uma resposta positiva me fez começar a chorar. Eu sentia que estava me desafiando, e mesmo com um chorinho final, me venci em mais um momento para continuar melhorando.
AGRESSIVA IN A GOOD WAY
Eu costumo falar da percepção do meu namorado, porque ele é um cara que me conhece muito bem e conhece melhor ainda a alma humana. Ele é um ótimo psicanalista em início de carreira e eu prezo demais as opiniões dele acerca deste tema.
Obviamente ele não gosta dos meus surtinhos de irritação mas ele gosta do meu "ser agressiva" quando se refere à tomar inciativas, quando acha que sou passional e vibrante com todo bom sentido dessas palavras. Então, por curiosidade fui olhar no dicionário e vi que esta esta palavra "agressividade" é sinônimo também de "combatividade". Só que não são sinônimos exatos. Ser combativo é ser lutador, ter raça pra enfrentar adversidades e tal.
Mas algumas vezes o Felipe diz que sou mais "agressiva" que muitas mulheres. E nesses momentos ele sempre tem um leve riso de canto de boca e me chama de agressiva com um mixto de seriedade e leve malícia, me fazendo quase um elogio. Nesse caso ele não se refere à minha "combatividade", acho que deve ser à minha pulsão de vida.
Pulsões: a Psicanálise conclui pela existência de um conflito inerente ao ser humano, conflito este entre a “pulsão de vida” e a “pulsão de morte”. A pulsão de vida tem como seus derivados a amorosidade, a criatividade, o desejo de expansão, a generosidade, em fim, tudo aquilo capaz de mobilizar a energia humana para a criação, expansão e manutenção da vida. A “pulsão de morte” expressaria uma tendência para o retorno à imobilidade, que é o nosso ponto de partida (Tu és pó, e ao pó tornarás). Seus derivados seriam a auto e hetero destrutividade, a agressividade, o marasmo, a auto limitação de vida, e por aí vai.
Beijos nas blogueiras queridas do Rio, Sampa e Porto Alegre ou de onde mais vocês estiverem me acessando. Leiam esta ótima matéria abaixo que retirei da Revista Vida Simples, ainda sobre o motor da agressividade. É bem interessante!
Essa nossa sombra
Por Liane Alves da Revista Vida Simples
Tenho um amigo que é totalmente zen. Ninguém tira o moço do sério. Foi despedido por causa de uma sacanagem feita por um colega de trabalho (e ele não conseguiu balbuciar uma frase sequer em sua própria defesa), vez por outra recebe em sua casa amigos que aparecem para ficar uma semana e estendem o prazo para longos três meses e já vi gente pegar alguns bons CDs da sua estante com um cínico e deslavado depois eu devolvo sem que ele esboçasse um único gesto para impedir. Meu amigo não consegue expressar sua agressividade. Num mundo onde a maioria não tem a menor cerimônia em arreganhar os dentes e abrir seus caminhos com os cotovelos, ele tem horror em ver nele mesmo essa reação primitiva que solapa a vida dos outros mortais (ele não, ele não...). Até que um dia, na minha casa, depois de umas três ou quatro caipirinhas, meu amigo começou a despejar ódios e fúrias que provavelmente tinha guardado desde a infância. A minha mesa da cozinha, que já não é essa fortaleza, tremia a cada soco seu, por causa da prepotência de um, da falsidade do outro. Cada gozação recebida, cada injustiça passada estava registrada em sua memória. Tive a impressão de que, se o rapaz dos CDs passasse por ali, teria sua mão decepada, e o colega de trabalho, os dentes moídos. Os hóspedes inconvenientes seriam postos para fora a sopapos. Depois de socar e socar, terminou chorando pelo verdadeiro motivo de sua ira: a incapacidade de entrar em contato com as emoções negativas.
Bem, minha cozinha está longe de ser um set terapêutico, mas, ao encontrar o moço alguns dias depois, vi um sorriso em seus lábios que não estava ali antes. Ele se sentia um pouco envergonhado, sim, mas feliz. Um peso enorme havia saído de seu coração, me garantiu. Um alívio. Estava supercontente por ter descoberto que era capaz de expressar sua agressividade. Claro, ele reconhecia que ainda tinha de aprender a saber como aplicá-la na hora certa, a regular seu volume, e que isso custaria tempo e trabalho. Tinha encontrado cara a cara seu lado negro, sua sombra, de quem tinha tanto pavor (a ponto de negar sua existência). A partir daquele momento, me assegurou, tudo era uma questão de calibragem. Pode ser imaginação minha, mas a partir desse dia passei a ver muito mais cor e vida em seu rosto.
Quem, eu?!
É muito difícil mesmo mexer no caldeirão das bruxas. Ali tem asa de morcego, rabo de lagartixa, perninha de aranha. Sem contar que o cheiro da gororoba não é nada agradável. O problema é que o caldeirão das bruxas não está ali fora, está aqui dentro. A gente disfarça, tenta negar (O quê? Essa asinha de barata é minha?! Esse sapo costurado sou eu?!), mas a verdade é que nossa sopona está lá o tempo todo, cozinhando e fervendo. Muitas vezes com a tampa fechada.
E por que não mexemos no caldeirão logo de vez, já que está ali mesmo e não dá para dizer que ele não existe? Ora, porque nos pelamos de medo, ué. Vai que o caldeirão entorna? Vai que nos queimamos com seu conteú do? Vai que a gente precise encarar quem a gente realmente é? É por isso que só é aconselhável mexer no caldeirão com uma colher de pau beeem comprida. Por algum tempo, o panelão vai ter de ficar a uma distância razoável, como se não nos pertencesse. Assim, sob a luz da consciência e com um certo distanciamento, a gente consegue ver bem direitinho o que tem lá dentro. Até que chega um dia, depois de observar bastante, que a gente é capaz de dizer coisas como: Nossa, é mesmo, eu fiquei com tanta inveja dela que... Ou: Tava me mordendo de ciúmes quando... O conteúdo do caldeirão é assimilado, reconhecido e, quando possível, transformado. Assumimos nosso lado B. O inferno agora não é mais só o outro, nós também temos carteirinha de sócios beneméritos. A partir disso, a gente fica mais humano, mais relax. E as pedras que tínhamos reservado para atirar no próximo escorregam naturalmente da mão. A luz da consciência também deixa o caldo mais clarinho, menos malcheiroso e mais fácil de mexer. Dizia o psicanalista suíço Carl Jung que é melhor ser inteiro que ser bom. Mas, para atingir essa totalidade e alcançar essa integração, é preciso ter a disposição de dar o primeiro passo: encarar para valer o nosso lado negro da Força.
Encontro com Darth
Lembra o Darth Vader do filme Guerra nas Estrelas? Alto, imponente, capa negra esvoaçante, voz sintetizada. E o capacete. Darth Vader não seria Darth Vader sem o capacete. Com aquela máscara metálica, ninguém sabia sua identidade, quem ele era ou, pior ainda, o que ele era. Sua capacidade de espalhar terror, seu poder e seu fascínio vinham disso. E aí, no fi m do filme, quando o jovem Luke Sky walker encurrala o bicho e é retirado o capacete, a gente vê aquele vermezinho branco dentro, um homem fraco, deformado, sem voz. O mago das trevas tirava sua força do que parecia ser, alguém poderoso e invencível, não do que realmente era, uma coisinha frágil, encolhida. O homem da capa preta não passava de um tigre de papel, uma sombra que só tinha poder enquanto... sombra.
Nossas emoções negativas, como medo, ódio, raiva, ciúme, inveja, cobiça, rejeição, ansiedade, pena de si mesmo, fraqueza ou desejo de falar mal dos outros, entre outras, também são assim. Elas parecem poderosas, invencíveis, mas se a gente descobrir como elas se formaram, de onde elas vêm e como funcionam, vamos ver que não passam de uma semente minúscula que se agigantou, alimentada por nós mesmos, diz a psicóloga paulista Maria Lúcia Albuquerque, especialista em terapia familiar. Quando nos damos conta de como tudo surgiu e o que realmente se esconde atrás desse tipo de emoção, todo o castelo que construímos a partir dela desmorona. E aí, bye-bye, sombra.
O filme também nos dá outra excelente pista com relação a Darth Vader. Revela-se que ele é o pai de Luke. O jovem guerreiro lutava contra alguém que estava muito mais próximo do que ele próprio podia imaginar. Darth Vader não era uma pessoa de fora, mas de dentro, da família, do mesmo sangue. Portanto, alguém íntimo, quem sabe até bem parecido. As emoções negativas também estão associadas a nós, a nossa maneira de ver o mundo. Não dá para dizer que elas são uma coisa e nós outra. Elas nos espelham, diz Maria Lúcia.
Outra boa indicação: o ódio de Darth Vader nasceu por causa de um sentimento de rejeição, experimentado ao ser excluído pela Força. E quem, depois de um acontecimento desse porte, já não escutou aquela vozinha ressentida dizendo dentro da gente: Ah, é assim, é? Então vocês vão ver... Pois é, Vader também ouviu e foi atrás. Exagerou, é verdade. Mas dá para compreender. Ainda mais por alguém como Luke, que conhecia a rejeição bem de perto, sendo ele mesmo um enjeitado. Quando a gente compreende as razões da sombra, é possível abraçá-la, integrá-la, e ver como seus motivos geralmente são tão pequenos, tão bobos. A sombra pode ser grande, mas seus motivos são quase infantis.
O problema é que Darth Vader extrapolou. Ele poderia ter pego a raiva do ah, é assim, é? e fundado uma versão bem mais moderna e sofisticada da Força. Ou ir para um planeta bem distante e esquecer de uma vez por todas essa história de competição, de maior e melhor, e ser feliz ao lado de uma marciana bonitona. Como diria meu amigo, faltou calibragem. É o que geralmente nos falta mesmo ao lidar com nossas emoções.
O peso da balança
Uma pergunta fundamental é: quem, ou o quê, reage dentro de nós de forma tão automática? O que detona as emoções? Quem aperta o gatilho mais rápido do Oeste?
A palavra emoção tem a mesma raiz da palavra movimento: motio, ou ação. E o que tem movimento tem vida. São as emoções que nos impulsionam à ação e que nos fazem sentir o gosto da vida. E elas fazem parte dela, tanto as chamadas emoções positivas como as negativas.
A questão é que são as emoções negativas que nos fazem mal. Elas podem ser naturais, fazer parte da gente, mas isso não impede sua ação nociva. Tanto sua expressão exagerada e contínua como a não-expressão inconsciente podem nos prejudicar. Hormônios entram em ação, órgãos são atingidos, sistemas internos, desequilibrados. E muita energia é perdida. Tudo isso por quê? Uma das respostas é porque estamos à mercê de uma estrutura psicológica reativa que nos impulsiona a agir quase sempre da mesma maneira. Isto é, segundo vários sistemas de pensamento, temos um padrão emocional predeterminado que responde quase automaticamente aos estímulos.
Os antigos gregos chamavam essa tendência reativa emocional de humores. Um tipo sanguíneo, por exemplo, normalmente reagiria exteriorizando abertamente sua raiva, seu ciúme, sua fúria. Um tipo mais bilioso (de bile, secreção do fígado) tenderia a remoer mais seus sentimentos. E um melancólico poderia sentir tristeza ou depressão.
As medicinas indiana e chinesa também se baseiam na idéia de que existem determinados padrões emocionais e energéticos que condicionam as pessoas desde o nascimento. Para os indianos, eles estão baseados em diferentes combinações de três forças: pita (fogo), vata (ar) e kapa (terra). Se uma pessoa é kapa kapa, por exemplo, vai ser calma e bonachona. Se é pita vata, elétrica e impaciente e assim por diante. Para os chineses, os fatores de infl uência que regem os diferentes tipos humanos são relacionados aos cinco elementos: madeira, fogo, terra, metal e água, balanceados de acordo com a data em que nascemos. A astrologia (tanto a ocidental como a oriental) é outra tentativa de conhecer melhor esses padrões reativos emocionais, representados pelos signos.
O ponto em comum entre todos esses sistemas é que eles apontam para a mesma direção. Só há uma maneira de ultrapassar o padrão reativo emocional: é ter mais consciência dele. E, a partir disso, experimentar a possibilidade de outras reações, já não tão automáticas e mecânicas. É assim que se pode começar a equilibrar as emoções, a dosar sua ação e a fazer nossa auto-regulagem.
Estratégias de vida
Um dos estudos mais interessantes já feitos sobre as emoções foi realizado pelo cientista austríaco Konrad Lorenz (1903-1989), ganhador do prêmio Nobel em 1973 e diretor do Instituto Max Planck, um centro de excelência em pesquisas. Konrad era especialista em comportamento animal. E viu como nossas emoções, assim como as dos animais, estão ligadas à defesa do território, ao desejo pela liderança de um grupo ou ao ímpeto de acasalamento. Elas se manifestam como estratégias eficazes de sobrevivência. Têm sua razão de ser, portanto.
A única diferença entre nós e outros animais é que podemos raciocinar sobre as emoções e, se necessário, ser capazes de redirecionar nosso comportamento a partir da nossa observação e inteligência. Um grande passo, sem dúvida. O problema é que muitas vezes a gente tropeça.
Mas foi para nos ajudar a ter mais consciência das emoções e a lidar com elas de uma forma mais inteligente que surgiram milhares de técnicas, terapias e aquele monte de livros do Daniel Goleman, o papa da inteligência emocional. Todo o arsenal das terapias orientais (massagem, acupuntura, aromaterapia, ioga, tai chi, meditação...) está aí exatamente para isso. Os consultórios de psicologia e terapias corporais também.
Historinha grega
Conta-se que um jovem pastor queria muito tornar-se discípulo de um dos grandes filósofos de Atenas, a cidade da sabedoria. Quando soube do seu intento, o filósofo mandou um ajudante procurá-lo para propor-lhe uma difícil tarefa: durante três anos, ele seria obrigado a não expressar suas emoções negativas. Ao fazer isso, devia olhar para o que ocorria dentro de si. Além disso, devia dar três moedas a cada pessoa que o ofendesse. Durante esse tempo, o pastor cumpriu sua tarefa: a cada inveja, a cada raiva ou angústia, fechava a boca e olhava para seu mundo interno, cada vez mais consciente do seu caldeirão. Aos poucos, aprendeu a não se identifi car com o que era dito, a conhecer melhor seus mecanismos emocionais e a rir de si mesmo. Ao mesmo tempo, não se esquecia de dar as três moedas a quem o xingasse ou o ofendesse. No fim do período, arrumou suas coisas e partiu rumo à cidade da filosofia. Ao passar pela entrada, um mendigo, na verdade o filósofo disfarçado, começou a xingálo: Idiota, pastor de cabras ignorante e pretensioso, onde pensas que vais? Esta cidade é só para quem atingiu a sabedoria, e não para alguém imprestável como tu! O jovem caiu na gargalhada e disse: Até há alguns dias eu era obrigado a pagar a quem me ofendesse. Agora que estou livre desse compromisso, que maravilha, posso receber seus xingamentos inteiramente de graça... O filósofo aprumou-se, sorriu e disse: Pode entrar, meu rapaz. Atenas é sua.
2 comentários:
Julia, és muito linda!...só para te ver e as restantes caras bonitas que estão no teu blog...vale a pena!o teu namorado que me perdoe.
Mas há a vida
que é para ser
intensamente vivida,
há o amor.
Que tem que ser vivido
até a última gota.
Sem nenhum medo.
Não mata.
?!...se souberes de quem é o poema...ofereço o teu peso em ouro!
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